Pitas em alta

por Ana Teixeira em segunda-feira, 4 de julho de 2011

A todos os que ainda não entraram de férias, aqui vai uma tentativa de melhorar a auto-estima =)

Pitas em alta

Estão bronzeadas, meninas upper class dançando numa festa de praia, caras lisas que conhecem a boa genética e os cremes hidratantes. Parecem odaliscas, divas com óculos de sol maiores que a cara, sereias zen obedecendo ao DJ na pista de dança. Cai a tarde e podem ver o céu vermelho através das pupilas dilatadas pelas pastilhas e pelo mdma. Estudaram em boas escolas, são universitárias numa cidade estrangeira, algumas já tomaram ácidos, têm boas notas, gostam da vibração das colunas embatendo na armação dos corpos dançantes.



Na beira da pista, observo o ritual da música electrónica e das substâncias que alteram a pele e a consciência. Uma das raparigas, com um calquito brilhante na bochecha e a languidez da felicidade química, aproxima-se para dizer: "Os putos é que sabem." Não percebo e ela repete: "Os putos é que sabem." Não falamos mais.



No dia seguinte, num miradouro aberto ao Tejo, três pitas bonitas e depuradas pelo bom gosto - podiam ter estado na festa da praia - dizem: "Ainda não dormi", "Não há nada como dar para trás", "A mãe da ----- é mestre de reiki". Uma delas tem um coração tatuado no pulso e uma frase no bíceps. Só consigo ler a palavra "love". Pinta as unhas de azul. Outra fala ao telefone: "A minha vida anda muito aborrecida."



Na praia, alguém me tinha dito que os tempos de crise são os mais indicados para o desvario das festas. No miradouro, elas são apenas princesas cheias de graça e têm a vida toda por diante. Penso se os putos, realmente, é que sabem. Claro que não, as pitas sabem muito mais que eles.


por Hugo Gonçalves, Publicado em 23 de Maio de 2011 em www.ionline.pt