um abraço à navegação

por Francisco em segunda-feira, 16 de maio de 2011

A todos os meus colegas com quem tive o prazer de trabalhar neste jornal, deixo um abraço grande e sentido, especialmente àqueles que me acompanharam desde os meus primeiros tempos como Director, alguns deles, aliás, os mesmos com quem iniciei o meu percurso académico, que agora termina. Foi bom, muito bom!
À Inês Pinto e à Rita Carvalho, desejo as maiores felicidades na condução deste jornal. Este Tribuna ainda agora saíu e eu já estou ansioso por ver o "vosso"!

Ah!, e não se esqueçam de convidar os "cotas" para os Errâncias... (até porque foram os mesmos "cotas" que o criaram!:))

Até à próxima!
Francisco.


(retirado do Editorial do Jornal Tribuna/Maio 211, papel impresso)

POST SCRIPTUM

Como o meu último número enquanto Director do Jornal Tribuna, gostaria de deixar uma palavra. Tal como os meus colegas antecessores, fui apanhado de surpresa quando, ainda no meu primeiro ano, me endereçaram um honroso convite para ser Director deste pequeno grande jornal.
Grande, porque feito de um entusiasmo genuíno dos estudantes, que em poucos sítios se vê desta forma. Grande, também, pelo rigor e profundidade de quem aqui escreve e colabora. Felizmente, pude ainda conviver com jornalistas (com todas as letras) que, ingenuamente, como eu, ainda valorizam mais a palavra do que a imagem, o “ruído” e a confusão. Pessoas que ainda acreditam – que sonham, como eu – que há quem queira ler uma página inteira de texto com jornalismo sério e informado. Estes são os jovens que, como eu, ainda dão valor à reflexão e conseguem ter a disponibilidade intelectual para se prenderem às palavras e aos pensamentos. Coisa rara, nos dias que correm. Num tempo em que o imediatismo e a "falta de paciência" para ler mais do que 5 linhas de texto são a regra (por isso ouvimos hoje dizer que se lêem mais jornais – pois lêem, mas são os “Metro” e os “Destak”), foi para mim um privilégio trabalhar com pessoas assim (nem todas, é certo) - pensantes.

Pequeno, porque o Tribuna vive e viverá (não direi sempre) num terrível dilema. Como jornal semestral que é (sai duas vezes por ano, no final das contas), de tiragem reduzida (1500 exemplares), vive permanentemente num impasse: ficar como está, que é num nível muito bom mas relativamente “doméstico”; ou profissionalizar-se, passando a fazer mais do que uma edição por semestre, criar uma página Web a sério, organizar conferências, colaborar com outros jornais (universitários e não só), etc. Mas tudo isto implica, pelo menos, três coisas: pessoas, tempo e meios técnicos (e este último implica… já adivinharam). Mais gente para trabalhar e mais tempo para que essa gente se possa dedicar em exclusivo a produzir bom jornalismo. Mas como fazê-lo quando somos estudantes e temos um curso para tirar? Como fazê-lo quando não temos qualquer retorno financeiro por isto?

No primeiro ano como Director, ainda conjecturei, em segredo, duas ou três ideias para avançar para essa maior profissionalização do jornal. Formalmente, não o consegui, não fui suficientemente corajoso e não tive a disponibilidade (mental e temporal) para isso. Profissionalizei-o, no entanto, e modéstia à parte, noutros sentidos: democratizando praticamente todos os processos de decisão internos (o que acarretou custos de “morosidade” inevitáveis, mas suportáveis!); batalhando por um grafismo moderno; procurando pessoas nas áreas da Fotografia e do Design para o jornal; organizando e tentando organizar conferências; procurando fazer do blog um espaço crítico e actualizado, através da manutenção de um painel de colunistas semanal; chamando personalidades importantes da sociedade civil para escrever no jornal (na coluna que hoje é conhecida como “Visto de Fora”); tentando amealhar patrocínios importantes (tarefa hercúlea, quando não vâ); ou incentivando a criação do “Em Amena Cavaqueira”, onde tanta gente reconhecida tem ocupado as páginas do jornal. Não o fiz sozinho, mas com a colaboração e energia dos meus colegas de redacção, a quem agradeço o alento, por vezes fundamental para quem arca com todas as responsabilidades.

Mas se contribui para a profissionalização do jornal, também nunca o deixei de… infantilizar, no melhor sentido possível. E por isso insisti e insisto (às vezes sou chato, bem sei!) com os meus colegas para que nos juntemos todos numa serra qualquer no “Errâncias”, ou para que façamos um “jantar de natal” e uma “troca de prendas”. E isto porque penso, como já escrevi num email lamechas qualquer que lhes enviei a todos há uns tempos, que qualquer organização só funciona com alegria e dedicação (e isso é diferente de funcionar “bem”) quando as pessoas comunicam entre si para além do “Há reunião na quarta” e “Tens que entregar o teu artigo até dia 20”. Porque, e este é um apelo que deixo às gerações futuras, o Tribuna só funcionará com a coesão que tem tido nos últimos anos enquanto houver amizade, cumplicidades, momentos bons de convívio. Sem isso, não há profissionalização que nos valha! E a sermos profissionais cinzentos e desconectados, então deixemo-nos ficar pela Terra do Nunca, esse pequeno gabinete no interior da AEFDUP.
Para esta última, vai o meu obrigado pelo apoio e confiança. Houve horas menos boas, é certo - mas quando é que não as há quando as pessoas são francas e dedicadas às suas respectivas causas?

Não saio, pois, com a consciência de “missão cumprida”, porque sinto que houve passos, os tais da profissionalização, que ficaram por dar. Se calhar porque não soube ou não fui capaz de mais, se calhar porque simplesmente é impossível atendendo ao meio em que o Tribuna se insere e ao período sempre curto de cada direcção.
Levo muita experiência, muitas relações, humanas e até profissionais, do meu período enquanto Director deste nobre jornal, e é nisso que a minha memória se fixa. À Inês Pinto e ao próximo(a) Director(a), desejo as maiores felicidades (e sorte, que também é precisa!) e deixo o desafio para que tomem os passos que eu não fui capaz de tomar.


“E agora eu vou-me embora
e embora a dor
não queira ir já embora
agora eu vou-me embora
e parto sem dor

E parto dentro de momentos
apesar de haver momentos
em que dentro a dor
não parte sem dor”
(Sérgio Godinho)