Anna Karenina

por Inês P. em sábado, 19 de março de 2011

“Anna Karenina”, o livro de Leon Tolstoi, foi publicado entre 1873 e 1877.

Apesar de ser considerada uma das obras-primas do autor e de, tal como o seu outro livro de renome “Guerra e Paz”, ter um impressionante número de páginas, parte de uma premissa relativamente simples. Ana Arkadievna, aristocrata russa, boa esposa, boa mãe, preocupada com os seus familiares, uma das grandes figuras da sociedade czarista, trai o marido com um homem mais novo, mais simpático, mais ardente. Nada de novo. Contudo a história complica-se mais tarde – e a condenação da traição da parte do seu círculo social, o abandono do filho, a impossibilidade do divórcio, desmentem todas as ideias açucaradas dos românticos da época, para os quais o adultério era quase um dever para alcançar a verdadeira felicidade.

Se Ana tinha tudo – beleza, elegância, dinheiro, a consideração dos amigos, relações nas mais altas esferas, um marido com uma carreira brilhante, um filho que amava acima de tudo – porquê deixar tudo por Vronski, consideravelmente inferior a tudo o que ela conhecera até então? Vronski sentia-se atraído pelo brilho de Ana, mas esta nada vê nele para além da sua juventude e entusiasmo pela vida. Talvez estivesse cansada de representar o papel da mulher perfeita, talvez precisasse de drama na sua própria vida. N’ ”A Cidade e as Serras”, de Eça de Queirós, um dos comensais de Jacinto em Paris afirma que os homens, depois de estes terem levado a civilização às suas máximas proporções, nada mais podiam construir – e agora apenas lhes restava o divino prazer de destruir tudo o que tinham feito até então. Talvez Ana, depois de construir a vida perfeita, tivesse agora como única consolação o prazer de a destruir, mergulhando numa espiral de sofrimento que acabaria por a destruir a ela própria.

Não deixa de ser interessante a estrutura cíclica da história – o autor começa e acaba a história de Ana no mesmo local – e não deixa de ser irónico que Ana conheça o seu futuro amante após chegar a Moscovo precisamente para reconciliar o seu irmão com a sua cunhada, depois de esta ter descoberto o caso extraconjugal do marido. Ana, a par de Emma Bovary, tornou-se uma das mais famosas adúlteras da literatura mundial – e a mais perfeita expressão de como o casamento pode ser aborrecido.
A par da história de Ana e Vronski desenvolvem-se outras tramas menores, que constituem a perfeita crítica da alta sociedade russa. Tolstoi, afirmando-se como uma das grandes vozes do realismo russo do século XIX, traça o retrato de uma sociedade hipócrita e materialista, denunciando subtilmente a injustiça com que as classes trabalhadoras são tratadas. Destaca-se a história de Constantino Levine, um dos grandes amigos do irmão de Ana, Stepane Arkadievich, que representa a voz da sensatez na futilidade reinante e – acredito - acaba por ser um alter-ego do autor.

Mais que recomendável :D