#34 às terças

por TR em terça-feira, 3 de novembro de 2009

Deste banco vejo-os pela rua, lado a lado. Cada um no seu mundo, de mão dada a assinalar que entre si há coisa, muito embora sem falarem e cada um para si pensando
(dizem que mais tarde darão um beijo à passarinho e dirão até amanhã).
Vejo mais: estes outros dois, avó e neto de mão dada em protecção – o avô de jornal entre o braço e o corpo, o neto a esticar a corda quanto possa (há que dar pontapés no ar quão longe quanto possível). Deve vir o rapazinho da escola: as calças vêm já rotas num joelho, a cara vem vermelho (vá dizer-se, para o suadito), e a mochila carrega-a bem.
E estes que por cá passam, um contando com desvelo mistério de alta finança, outro ouvindo bem atento de juízo já a surgir. Cruzam-se com o avó e neto, a conversa pára – dois segundos – e logo recomeça com o ataque ao ponto alto do problema.
Seguem sempre, compenetrados, passam o casal primeiro, e ainda um segundo que agora se senta num banco avermelhado, falando entre sorrisos: ele remexendo umas folhas caídas, ele inventando tema para não ter de a largar.
Basta vê-los para saber que as palavras chegarão sempre. E que, vendo os primeiros, quererão também qualquer coisa a anunciar.
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Outros haverá: aí, pelas ruas, às manhãs, às tardes, mais nestas que naquelas, errando alegremente além do que este farol alcança. Seguindo com as suas histórias, graças, “Ana…dotas”, inquietudes, seguindo de mãos juntas ou sem dar.
Porque andarão, para onde irão, de onde hajam partido, não importa: enquanto seguirem lado a lado terão qualquer coisa mais.
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- A humanidade? - interrompe-me a senhora, entretanto aqui sentada, a quem leio o meu esboço. Conhecia-a, primeiro, de vista; depois apalavramos. E de vez em quando, por cá, neste banco, vamos falando. Lado a lado. – É assim que o menino vai acabar o texto?
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- Algo mais – respondo. Espero uns segundos e olho a senhora, sorrindo. – Ter-nos-emos uns aos outros.
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Nota : Há duas semanas, disse, na caixa de comentários, que ia desenvolver o tema então abordado. Por via dessa auto adstrição, acabei por não colocar nada a semana passada. Porquê? Toda a tremenda vontade de desenvolver o primeiro post tinha, entretanto, desvanecido…
Ontem, precisamente a este propósito (não me apetecia, de novo, desenvolver o dito post), alertou-me uma amiga minha – não com estas palavras, embora com esta materialidade – para não escrever o que não me apetecesse. E tem toda a razão. O mais provável era escrever qualquer coisa particularmente insípida que mais valeria não surgir.
Quando tiver tempo, desenvolverei o outro post. Por agora fica este, escrito – como o de há duas semanas, afinal – com gosto. Para a semana… não sei!

Um comentário

Escusado será dizer que a tua amiga teve uma atitude muito altruísta (aposto que ela até queria imenso ler um 'às terças' sobre retratos/ fotografias) ;p

by Inês on 3 de novembro de 2009 às 09:20. #