essência e condição

por henrique guerra maio em segunda-feira, 19 de outubro de 2009

I

“Põe a gramática em prática,

Didáctica, dramaticamente citando técnicas

Poéticas com estéticas

Fonéticas sempre atento ou surpreendente

Com métricas à frente, p’a mentes cépticas e exigentes”

Sam the kid

Sou guardião da palavra, da pedra e de meu Império. Assim, pedra a pedra, palavra a palavra, ergo meu Império.

Vaidade e modéstia se misturam enquanto esculpo meu próprio discurso. Cepticismo leva-me as idiossincrasias fazendo-me encontrar a soma das partes. O Homem no seu todo é um Império imperfeito. Nunca vi um só Homem que através de certa palavra conseguisse expressar exactamente o significado que ela mesma lhe trás a seus olhos. E eis aqui toda a problemática de uma linguagem que sempre se quis universal. Confunde-se sensação e razão e, mesmo assim, sabendo tal, ergue-se um discurso sempre, mas sempre nebuloso. A palavra constrói-se ao longo do Tempo e, assim, a mesma palavra é repositório de épocas, do ritual e do costume. Porém, estranha-se quando certa palavra em certo momento é usada com o seu sentido já esquecido nas almas dos homens, estranha-se a habilidade e a novidade (que em verdade nunca foi novidade, mas sim renascimento).

Um estilo não é mais que resultado do processo criativo de um homem que nunca se lembrou das leis da razão enquanto erguia sua própria eloquência.*

*("O génio por muito que saiba, quando entregue à sua criação, é inconsciente como o cedro", Ruy Belo)

A razão não habita pelos caminhos da criação, pois se a palavra tem que se deformar em certa altura, a razão logo castraria tal processo que, mais tarde, levaria a um harmonioso renascimento. O desconforto surge pela novidade e esta é a minha confissão. Todo o Homem pensa sua linguagem e semeia com ou mais cuidado, porém não se ceguem pela razão e pelo estudo da palavra, uma boa colheita advém sempre do coração do homem que, em certa altura, decide inverter o curso do rio, fazendo nascer a admiração, criando e exaltando seus deuses.

Um estilo não é um qualquer cárcere da criação. Cria teu estilo, com mais ou menos modéstia e, mesmo não agradando a todos, alimenta-o para que cresça. A crítica à tua Obra virá certamente, mas a crítica não destrói o criador, apenas é resultado da contemplação da Obra. Se a tua obra é contemplada, então, meus caros, a criação de um estilo “Novo”, de palavras com novos significados, foi a semente que lutou para medrar. E conseguiu crescer, destruindo as estruturas lógicas outrora definidas. Porque lógica, tu, caro homem, não poderás brincar com a palavra?

Dá-me a sístole e eu, como reflexo, dar-te-ei a diástole.

Logo ao longe nasce a contestação o discurso não é universal. Mas, se seu criador ao fazer preces para que seu discurso nascesse nunca procurou outra coisa a não ser seu crescimento porque razão seu discurso teria que ser universal? Porque razão, todo e qualquer homem, perceberia a semente que está por detrás de certa palavra usada por certo homem em particular? Ah, desenganem-se, não é falha do criador, não é arrogância ou superioridade do mesmo, é apenas respeito à ideia que o fez criar. Se o julgam caem no ridículo e obrigam esse mesmo homem a apegar-se às cordas da Lógica para poder trepar até ao cimo da montanha. Que a linguagem traz entendimento e diálogo entre homens é algo de verdadeiro, não nos podemos esquecer nunca que ela também traz a confusão e a diferença. Tentar subtrair esta característica àquela é mera quimera.

Reparai, eu fundo a concórdia e a confusão. Faço com que elas unam as mãos! Porém, admiro a confusão, oportunidade única para vencer a inércia e arrebitar o homem há muito encarquilhado em suas estruturas.

Em mim, entabulando meu discurso, apenas desenho uma conclusão: jamais irei procurar a Verdade, ela não me interessa; por outro lado, nunca cairei no erro de abraçar a Lógica; ainda, em mim não habita qualquer ânimo para exaltar a Razão. Critiquem minhas palavras, em mim, uma divindade: a sensação. Único discurso capaz de enaltecer nossa condição. Mas tudo são vazias palavras se não as souber decorar. E eis que fundo o laço que me une aos homens: o coração. Minha palavra renasce cada vez que me encontro diante de uma folha branca, minhas mãos procuram moldar a argila. A cada dia, a mesma palavra encontra novo significado, até ser reduzida à sua essência e, assim, apelando ao sacrifício, descobrirei com o tempo que a essência da palavra é reflexo do laço que nos une.

"Consistência,integridade,longevidade na essência"

Sam the kid