Toxicodependência--» fenómeno de responsabilidade social

por Anónimo em sábado, 24 de outubro de 2009

"A minha família nunca desistiu de mim, eu é que desisti sempre deles", Joaquim Fonseca ( nome fictício)

Esta foi uma das frases que mais me marcaram e mais me chocaram nesta minha curta experiência terrena por de modo sucinto e forte descrever um mundo tão complexo como o da Droga.

Este testemunho à semelhança do de Joaquin Martinez é daqueles testemunhos em que as lágrimas banham os nossos olhos e fazem cair teimosamente na nossa face de incredulidade e inconsciência.

Sexta-feira passada no âmbito da cadeira de Métodos Qualitativos, Criminologia, eu e dois colegas dirigimo-nos à Quinta do Sol onde está instalada uma pequena comunidade terapeutica para a reabilitação de toxicodependentes e alcoolicos (ART) e fizemos uma entrevista ao director da comunidade bem como a um toxicodependente em reabilitação! ( Por motivos profissionais só mais tarde poderei revelar excertos da entrevista e o modo de funcionamento da instituição neste blogue).

Por agora ficarão algumas considerações e reflexões, um misto de artigo de opinião e crítica!

Para mim a frase inicial resume de modo fantástico todos os sentimentos mais tristes que a dependência de substancias traz à vida de uma pessoa. Nela estão inscritos uma panóplia de sentimentos, receios, medos, remorsos, uma luta entre o Amor e a Droga onde inexplicavelmente a segunda saiu vencedora sobre a primeira durante anos da vida destes actores sociais.

Penso agora no quanto o assunto da toxicodependência está banalizado... O quanto as pessoas "convencionais" conseguem ser egoistas ao ponto de através de um processo de etiquetagem voraz marginalizarem fortemente estas pessoas que não passam de Seres Psiquicamente Doentes tal como seriam os esquizoides, psicoses, neuroses, depressões, entre outros.

Como é que nós Seres Humanos fomos capazes de nos conformarmos com o fenómeno Toxicodependência e o arrumámos numa gaveta para não termos de assinar o termo de responsabilidade social ( que Garófalo já aplicava noutro contexto distinto mas relativamente e somente face ao fenómeno crime e perigosidade. Garófalo considerava os sujeitos como sendo determinados psicologicamente ao cometimento de crimes e como tal eles seriam incapazes de culpa, seriam ser inadaptados socialmente tendo a sociedade de se responsabilizar por eles e neutralizá-los.)

Ora a Toxicodependência é também um fenómeno alvo de responsabilização social mas aqui o nosso papel não é neutralizá-los, irresponsabilizá-los, etiquetá-los, marginalizá-los, olhá-los como desviantes, delinquentes ao mesmo criminosos, Não, o nosso papel é conhecê-los. Criminólogos, socioólogos, psicólogos já o fazem através de métodos qualitativos (de ressalvar grandes correntes como a da Escola de Chicago e Interaccionismo Simbólico) mas não cabe só a nós este papel.

A sociedade mente quando diz conhecer estes actores sociais, Mente descaradamente porque não conhece, nunca acedeu verdadeiramente aos seus significados, nunca os ajudou verdadeiramente, É uma calamidade pública deixarmos países enriquecerem, políticos nadarem em dinheiro, quando estes desgraçados estragam cada vez mais a sua Vida e passam a sobreviver solitariamente num mundo em que o epicentro é a droga e nada mais, NADA MAIS importa...

Faço um Alerta a todos, dispam as gravatas, dispam os formalismos, a cara afiada, Dispam os preconceitos, as etiquetas, Dispam-se e abram a mente ao problema que realmente está à nossa frente, o trabalho não tem que ser só nosso, A sociedade está já tão poluída, tão mecanizada, tão politizada, tão formalizada que todos já saem da realidade, do materialmente acontecido e vivem o seu mundo que não existe, o mundo não é Civilizado, não é humano... Mais parecemos animais egoistas, uns mais domesticados que outros em que Eu estou correcta e os outros a escória... Os toxicodependentes precisam de nós, precisam pelo menos que os conheçámos!!!!!!!!!!

Um comentário

finalmente, algo mais que a habitual "verve" lírica.

um texto responsável e alerta.

by Manuel Marques Pinto de Rezende on 25 de outubro de 2009 às 12:23. #