#27 às terças, quase como acaso

por TR em terça-feira, 12 de maio de 2009

Na queima, logo no primeiro sábado, ouvi:
- Em novos temos de duvidar de tudo, em velhos de ter certezas.
Suponho que o meu interlocutor falasse a sério.
Mas, para além da petição de princípio, já que se assume um dogma do qual não se duvida ("em novos temos de duvidar de tudo), deixou-me imensas reservas. Ou mais que isso.
Ergue como ponto de partida o que é o ponto de chegada. Já sabe que vai duvidar, não importa de quê; e já sabe que chegará a velho tendo certezas, não importa quais. De onde se conclui que o aparente acérrimo sentido crítico que a consideração aparentava esboroa-se completamente.
Duvida-se por duvidar (há tempos assim) embarca-se na maré porque é suposto assim o fazer, sem qualquer razão material que o sustente. E a frase, tão ousada, é também já muito batida, filha acomodada no tempo em que nasceu.
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(Lembro-me, a este propósito, do texto na coluna "retratos da cidade branca" da anterior edição do tribuna, do Francisco Noronha. Explorava o que era ser revolucionário. Se vestir a mesma capa dos nossos avós ou, então, agir sobre o tempo de hoje, à luz das especificidades da nossa época)

Um comentário

A frase, a ser axioma (que nunca poderá ser), seria.... ao contrário. Em novos temos muitas certezas. Que pertencemos a este grupo, que gostamos desta música e daqueles passatempos.
No caminho do envelhecimento, quando se estuda e se reflecte, é que surge a torrente inelutável de dúvidas, contradições, paradoxos. Quando conseguimos absorver e pensar dialecticamente tudo isto, é que a luz da certeza se vislumbra. Uma certeza, em si própria, sempre duvidável.

Tenho uma certa aversão pelas "certezas" de quando somos novos... e contra mim falo.
E se houve alguém que me faz colocar em dúvida permanentemente, esse alguém é o racionalista Tiago Ramalho. :) O Descartes da FDUP... ihih

Um grande abraço, amigo.

by Francisco on 12 de maio de 2009 às 10:47. #