O que um verso demora!
A esta mesma hora,
Quantos poetas, como eu, à espera!...
Passou o inverno, veio a primavera,
Deitou-se a noite, ergueu-se a madrugada
E a voz
De todos nós
Cativa na garganta estrangulada.
Nenhum sinal no céu de próximo milagre;
Os adivinhos mal nos adivinham;
E os restantes humanos,
Há infinitos anos
Que apenas tecem
A teia da rotina,
Como o instinto os ensina.
E resta-nos a força
Que empurra os cegos contra a claridade.
Ter confiança é deslaçar metade
Do nó do tempo que o destino aperta.
Suprema descoberta
Doutros que no passado não desesperaram,
E foram premiados e cantaram.
Mas pesa como um luto
Este silêncio hostil.
E fere como a raiva dum cilício
A certeza da morte
Colada ao corpo.
Que desgraça
Desconhecida,
Se a mudez ultrapassa
A nossa vida!
in Antologia Poética (4a Edição Aumentada), Diário XIII
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