o dia em que fecharam o meu café. . .

por Anónimo em terça-feira, 10 de março de 2009

"Tem piada, a vida..."

Nesse mesmo dia, comunicaram me a hedionda decisão! As portas quiseram fechar-se, as janelas rejeitavam o vento e o sol, as paredes convidaram sementes de amêndoa para se infiltrarem em si e crescerem fragmentando a sua alma. O ambiente era de tristeza pura, de um cinzento tão mas tão carregado. (O que não admirava, afinal de contas tudo se quer tornar num cinzento garrido, penso que o cinzento garrido é a nossa "raison d'être, digo-o assertivamente)

Oh que coisa triste veio a acontecer, o Estúpido pegou naquele pequeno pedaço de madeira e resolveu ferir a pobre janela, estilhaçando-a, fazendo com que as palavras voassem para fora. Esse mesmo, o Estúpido, agarrou as palavras, e gozou com elas, com a sua sensibilidade, com a "estupidez delas", por ironia que seja. Tão grave!

"Je ne sais pas", disse-me a pobre rapariga que outrora era dona das mais profundas riquezas. "Não sei, não sei o que dizer, tudo me escapa pelas mãos, nada posso agarrar, não sei! Os olhares, os gestos, o toque, tudo foge nada pára. Porquê? As pessoas não compreendem...."

Oh rapariga, a novidade que tanto anseias, , como custa eu dizer-te isto, a novidade que eu anseio, eu, não tu, é efémera. A novidade, em si, uma coisa nova em si, é nova por um instante e depois monótona e horrivel, provoca vómito e doença, provoca enfermidade e ódio. Oh, piedade e ódio de tudo isto, que ardor! Como queima, rapariga, como queima!

Até tu... até tu me roubas as palavras! Porquê? Que te fiz eu?! Sabes, ainda bem que este lugar cai, se quebra e desaparece, estas paredes tão frágeis... se calhar sempre foram fragéis. Mas, mais que tudo isto, não percebo a maneira como ages, como és pretensioso e como desistes de ti e de mim.

Mas isto alguma vez foi de mim e de ti? (rematei admirado e confesso que o estava)

Entretanto o Estúpido continuava na sua demanda, zombava com os pobres homenzinhos nas suas vivências sem sentido. E até lançou boas ideias:

1 - Se a chávena de café fosse virada ao contrário?
2- Se brincássemos com as horas dos nossos relógios e isso não implicasse a condenação por "atrasos" ou "chegar cedo demais"!
3- Se uma fechadura de uma porta fosse trocada por um interruptor de luz (daqueles bonitos e pomposos)?
4- Se em vez de pacotes de açúcar, fossem pacotes de sal? E o açúcar vendido com formato de sal?

(Confesso, que só mais tarde vim entender tudo isto... mas muito mais tarde, quando porventura me tornei tão estúpido como aquele Estúpido, todavia por muito tarde que tenha sido, e se escrevo posteriormente a esse tempo "Tarde", então a loucura dominou a escrita, e este relato desvirtua o Estúpido que foi e o Estúpido que é!)

A rapariga chorava à minha frente... eu? Desaparecia por entre tanta palavra e dizer, desaparecia sem ter dito e por ter dito (coisa horrível acrescente-se).

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Para ti o disse, para ti... Neste dia, em que o nosso café fechou as portas, por uma destruição quer interior (por nós feita) quer exterior (por causa do Estúpido).
E mal destas palavras, se descrevessem a forma como o Excêntrico roubou o meu coração, como o bondoso o queimou, como o Histérico mo devolveu. As lágrimas queimadas pela bondade estéril...

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"Coisa triste essa de viver sem um grande amor!

Não te preocupes, jeunne fille!

Eu sei! Preocupar torna-nos quebradiços, muito muito frágeis como o gelo.

Sim, acertaste! É isso mesmo! Adoro esta sintonia!"

Um comentário

:) o texto está mesmo fixe. gostei. fez-me sorrir.

by D. on 11 de março de 2009 às 15:35. #