Acordar cedo e ao saltar da cama ter que vestir um roupão. Olhar para os vidros embaciados. Escolher um casaco e um cachecol. Sair para a rua. Frio na cara, cabelo ao vento. Ver passar o autocarro ao dobrar da esquina. Classic. Um café cheio, por favor. Sms matinais. O autocarro e agora entro. Cheiro a pessoas. Jornais gratuitos. O percurso de todos os dias. Um rapaz giro de fato e gravata VS o AcTc que não acabei de ler na noite anterior. A rua estreita e barulhenta que me leva ao meu destino. FDUP. Bons dias na subida da escadaria. Tantos lugares à escolha. Aula daquelas (mais uma). O ultimamente constante se-calhar-afinal-em-certa-medida até gosto de Direito. Intervalo. Conversas e mais bons dias. Um corredor cheio de caras conhecidas. Sorrisos. Um anfiteatro a abarrotar. Critérios e restrições. Raciocínios às vezes quase matemáticos. Definitivamente, gosto de Direito. Sorriso de já não era sem tempo! Almoço de sempre. Conversas de sempre que sabem bem como sempre. O bar a uma hora diferente da de sempre - o bar à hora de sempre da minha 5a feira ou o bar à hora de quase nunca da minha semana. Biblioteca. Livros, anotações, separatas, mexericos em tom quase inaudível. Aula. O raio do intervalo que nunca nos dão, o raio do café de que tanto precisava, o raio das baleias e das moratórias. Como é que ainda assim gosto de Direito? As reservas e o costume. Não sei, mas gosto. 2h15 seguidas. Lanche no bar - semi cheio ou semi vazio? O tão desejado café fica adiado. Afinal já não é preciso. O melhor mito urbano de sempre contado à mesa do lanche. Acredito, não acredito, até podia ser verdade, mas. Conversas parvas rua acima. Ver o autocarro ao longe, mas a vir para cá. Até amanhã em vozes diferentes - vocativos trocados, a mesma boa disposição. 5 da tarde e já é quase noite. O sítio do costume. Ficar a mexer o café tempos infinitos. Fazer durar o tempo. Passar os dedos pela chávena ainda quente enquanto leio. Ainda artigos, ainda restrições, outros autores, novas questões, a cabeça a mil. E cada vez gosto mais. Olhares. Mensagens. Descobertas surpreendentes. E supreendentemente gosto. O cheiro a café nas mãos. As chaves de casa na porta. O cheiro a fumo na roupa. Agora apetecia-me mesmo acender a lareira e ficar tempos infinitos a fixar as labaredas até ter as bochechas vermelhas. E estar de pijama, sim. Deitada no sofá. A ler um livro. Adormecer ali mesmo. E amanhã não ter absolutamente nada para fazer.
Acordar à pressa e fazer tudo outra vez, ainda com cheiro a café nas mãos.
Acordar à pressa e fazer tudo outra vez, ainda com cheiro a café nas mãos.
- 2 comentários • Category: au fil du temps
- Partilhar no Twitter, Facebook, Delicious, Digg, Reddit

2 comentários
Gostei muito - gostei não só do texto que está muitissimo bem escrito, mas também de saber que estás bem contigo. com direito. com café. com o mundo.
by Luísa on 7 de novembro de 2008 às 23:27. #
Fantástico. vi-me ao espelho.
by TR on 10 de novembro de 2008 às 09:24. #
Enviar um comentário