ANARQUIA

por João Fachana em domingo, 16 de novembro de 2008

Oito horas e cinquenta e cinco minutos:

- Como vê, Sra. Directora. – Anarquia olhava para o relógio. – Os meus homens são muito eficientes.
- O que é que você quer daqui?
- Não se preocupe com isso, vai sabe-lo em breve, como todos os outros. Ou talvez não. De qualquer forma, vamos ver como tudo isto corre. Nem tudo é planeado ao milímetro, assim não tem piada não é? É sempre preciso uma pitada de… Improviso. Vamos!
Anarquia empunhou a arma e fez sinal para a Directora se levantar da cadeira e sair pela porta. Anarquia foi atrás dela, com a arma encostada às suas costas. A secretária já não estava na mesa, estava também no polivalente, como Anarquia constatou. Todos os funcionários estavam lá, menos o porteiro, claro. Fernando aproximou-se dele:
- Não devias estar de cara tapada? Assim se tiveres de fugir tens aqui pelo menos trezentas testemunhas que te viram. – Sussurrou Fernando ao ouvido de Anarquia.
- Não te preocupes, está tudo sobre controlo. Toma conta dos reféns, eu já venho, tenho um pequeno problema a resolver.
Anarquia afastou-se, saiu do polivalente tranquilamente e, depois, começou a correr desalmadamente até à entrada da escola onde estava o porteiro. Mal o avistou, abrandou o paço e voltou a andar calmamente, escondendo o seu revólver atrás das costas. Tal como suspeitava, o sacana do porteiro não tinha ouvido ou tinha ignorado o aviso da secretária da Directora. E já parecia assustado com o barulho dos tiros.
- Você veio de lá de dentro? – Perguntou o porteiro. – Pareceu ouvir-me tiros e gritos.
- Não ouviu a ordem da secretária? – Perguntou Anarquia rispidamente.
- Não, não ouvi.
- Devia ter ouvido. E devia ter cumprido.
- Quem é você para falar assim comigo?
- O seu carrasco. – E sem um momento de fôlego, tirou a arma de trás das costas e disparou. A bala alojou-se no crânio do porteiro, mesmo no meio dos olhos. Ele caiu para trás, morto.
Anarquia olhou em redor. Não via ninguém, nenhum olhar curioso, nenhum carro a passar. Tinha sido o “timming” perfeito. Revistou o homem. Não tinha telemóvel. Teria avisado a polícia pelo telefone da sua cabine? Pegou nele e carregou na tecla “redial”. O número 112 apareceu no visor do telefone. Desligou e praguejou, dando pontapés ao cadáver do porteiro. Depois acalmou-se. Um ligeiro contratempo. Pegou no seu telemóvel e discou um número.
- Está?
- Fernando, houve um ligeiro contratempo, o porteiro telefonou para o 112. Eles devem ter enviado um carro-patrulha ver o que se passa.
- Achas que é melhor fugirmos?
- Nem penses! Trata é de procurar a Luísa Matos. Depois de eu resolver este problema, temos de começar de imediato o nosso plano. – E desligou.
Mal tinha acabado de desligar o telemóvel quando viu um carro da polícia, com as sirenes ligadas ao fundo da rua da Escola. Tirou o casaco do fato que vestia e substitui-o pelo blusão do porteiro que estava pousado numa cadeira. Felizmente o impacto da bala não o tinha salpicado de sangue. Dirigiu-se à entrada. O carro estava quase a chegar. Parou à sua frente e de lá saíram dois agentes da PSP.
- Bom dia. – Disse um deles. – Foi você que ligou para o 112?
- Sim, sr. Guarda, fui, mas afinal não houve perigo nenhum. Confundi o barulho de disparos com umas bombinhas de Carnaval. E umas míudas assustaram-se. Enfim, uma brincadeira de rapazes para se meterem com as raparigas.
- Podia ter avisado a central, escusávamos de aqui vir… – Disse o outro polícia meio irritado.
- Sim, tem razão, mas sabe, estive a repreender os rapazes e nem me lembrei de voltar a ligar. Peço imensa desculpa.
- Pronto, da próxima vez ligue só mesmo em caso de emergência. – Disse o primeiro agente.
- Sim, é o que farei. Muito obrigado e mais uma vez desculpem pelo incómodo.
- Um bom dia. – Disseram antes de voltarem a entrar no carro e de arrancarem.
Mal os polícias se afastaram, Anarquia voltou à cabine do porteiro e voltou a trocar o blusão pelo seu casaco. O cadáver poderia ficar ali a apodrecer. Ligou novamente para Fernando.
- Situação resolvida. E já encontraste a rapariga?
- Já. Já está aqui ao meu lado.
- Óptimo, já vou para aí. – E desligou.
De qualquer das formas, mesmo que alguém passeando por aquela zona cheirasse o cheiro a morte vindo do cadáver não faria diferença. Afinal, daqui a uma hora, no máximo, aquele sítio estaria cheio de polícias…

2 comentários

típico...

by Freddy on 16 de novembro de 2008 às 22:31. #

this is cool...

começo a gostar deste tipo, o Anarquia...

se bem que no submundo do crime deve ser muuuito gozado pelo nome...

by Manuel Marques Pinto de Rezende on 18 de novembro de 2008 às 00:38. #