Quatro

por Luísa em quarta-feira, 15 de outubro de 2008

São cinzentas, enormes e a poeira continua a ferir meus olhos. Anseio o dia que não vai chegar e temo o que me é tão próximo. A sentença que recebo, por um crime que não cometi, é a de não voltar a ter hipótese de errar. Não me foi dada uma segunda oportunidade.

Os dias passam e a ampulheta não pára. Diria que já passaram semanas, meses, anos até, mas a verdade é que não sei qual é a verdade. O pó diminui e a minha vontade de viver aumenta.

Raiva, medo, decepção, angústia. Tudo se transforma numa enorme bola de fogo que não sou capaz de evitar. As minhas mãos tremem, sinto-me sufocar de tanto gritar e, quase que por ironia, meus olhos parecem querer expelir todo este ódio que sinto, mas que não sabia que existia em mim.

Tudo é tao injusto. Foram-me fazendo acreditar, ao longo de todo o processo, que eu voltaria a ser eu. "A justiça tarda mas chega", diziam eles.

Aproveito o meu dia a olhar para quatro paredes. Ao longo deste meu passado não muito recente foram a minha maior tristeza, mas também a minha maior companhia.

Amanhã é o dia em que darei o último suspiro. Amanhã é o dia em que sorrirei pela última vez. Amanhã é o dia em que verterei a última lagrima. E tudo isto poderei fazer calmamente sentado numa cadeira. Antes era mais complicado. Agora basta uma pequena injecção e não poderei ver o dia nascer de novo.

Um comentário

A sério que vamos ser assim?
Escrever para fazer chorar terceiros?
Até me tava a correr bem o dia...

by Guilherme Silva on 15 de outubro de 2008 às 23:39. #