Filisteu

por Guilherme Silva em segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Este fim-de-semana fui filisteu.
Não li, não ouvi Dvorak e seus colegas clássicos, e não vi filmes. Tão pouco debati ou discuti fosse o que fosse. Permiti-me até responder apenas através de acenos com a cabeça.
Quero ser um filisteu. Quero viver as emoções da vida, não as quero viver através de relatos de terceiros. Quero levar o físico aos limites; quero esgota-lo, treina-lo, rasga-lo, esvazia-lo. Mas não posso. Nunca serei um filisteu - disseram-me - pois quem usa a palavra “filisteu” nunca acabará um…
O erudito, o intelectualmente hábil, o virtuoso do conhecimento, julgo vê-los definhar de dentro para fora. Tanta sede corrói-lhes muitas vezes a essência; definham num qualquer antro escuro e húmido, mas repleto das melhores obras!
Este fim-de-semana fui filisteu. Matei pessoas em frente à Playstation, comi mousse de chocolate e bolacha Maria, e mirei mulheres sem nunca acabar divagando ou dissertando sobre a beleza feminina, longe disso. Julgo até ter ouvido Justin Timberlake…
Dizem-me que as maiores façanhas da História foram concretizadas por Homens cultos, esclarecidos e iluminados – os não-filisteus - mas não foram os maiores horrores protagonizados pelos seus semelhantes?
Quero ser um filisteu. Quero viver uma vida calma - longe das coisas que fazem doer a cabeça - lavar a minha roupa no rio, e tomar uma Vénus em meus braços, tal qual Tannhãuser.
Mas nunca serei um filisteu - disseram-me - pois quem toma tantas vezes Tannhãuser por exemplo, nunca acabará um…

2 comentários

Adorei.

by Inês on 21 de outubro de 2008 às 23:55. #

Sempre ouvi dizer que querer é poder. Pergunto-me, no entanto, até que ponto é possivel pôr o mundo de pernas para o ar... Desafia-o!

Gosto dos teus textos.

by Luísa on 23 de outubro de 2008 às 18:31. #