Das pequenas coisas. Mas não o deus.

por D. em sábado, 25 de outubro de 2008

Nalguns dias que começam cinzentos, poucas coisas podem fazer a sua salvação: está condenado desde o seu início a ser um fracasso. Simplesmente é pouca a disposição em levantar, o frio que faz fora da cama corta. O dia ainda mal despertou e a cabeça pesa mais do que na noite anterior em que foi difícil adormecer. De novo as memórias dele. De novo a correr para o comboio, de novo atrasada em segundos, mas os comboios não esperam segundos e partem sempre com uma espécie de sorriso cínico quando estamos quase quase a chegar à sua porta. Depois as ruas estão simplesmente demasiado cinzentas e simplesmente o frio esgota a paciência de qualquer pessoa e o corpo continua pesado com o sono de tantos dias de noites mal dormidas. As vozes das pessoas perdem-se simplesmente como se fossem zumbidos, embora responda sempre afirmativamente, não capto nenhuma das palavras. (É tão bom continuar a criar os sonhos depois de se acordar.)De novo um sorriso, e de novo algumas palavras. E depois eis a pergunta que haveria de me acordar o cérebro e metê-lo a trabalhar, a pensar: se o Estado te desse uma arma e te obrigasse a matar cinco pessoas, quem matarias? A senhora que caminha em frente ri-se e diz: quem me dera, há muitos que andam a precisar de morrer. Mas eu não seria capaz de matar ninguém: mas imagina que tinhas mesmo de o fazer. E assim acabei o dia, quem seria eu capaz de matar? Depois de mais uma viagem de comboio, desta vez sem correr o risco de o perder e depois de uma caminhada até casa, com o frio a gelar as veias, já sei por onde começar. Quando o Estado me der uma arma e me forçar a matar alguém a primeira pessoa que levará um tiro meu será efectivamente.

Um comentário

O inverno tem disto... :)

by Guilherme Silva on 26 de outubro de 2008 às 19:35. #