alea jacta est

por Ary em segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Se olharmos o mundo sem ver, sem pensar, absorvendo apenas a luz que as nossas retinas captam, sem atender mais a umas coisas que a outras, sem distinguir o importante do insignificante, o bom do mau, o feio do belo; se não procurarmos desesperadamente um sentido, uma Grundnorm, um deus ou um diabo que unifique finalmente todas as partes desavindas, todas as meadas do novelo; se, por fim, vivermos cada dia dar significado ao passado ou especular sobre o futuro; se fizermos tudo isto, iremos certamente perceber o quão absurda, desligada, desconexa, aleatória e surreal é a própria realidade.

São sempre os resultados mais improváveis que acontecem quando o cenário é complicado, porque, provavelmente, a soma das probabilidades de todos os resultados improváveis, supera, e bem, a soma das probabilidades de todos os resultados prováveis.

O mundo é .... estranho.

Claro está que eu não acredito no próprio conceito de aleatoriedade. Nada é aleatório, ou verdadeiramente aleatório. Tudo está dependente, em última instância de leis físicas, que, pelo menos acreditando na ciência mais moderna, são sempre iguais a si mesmas. No fundo tudo depende de alguma coisa, ou de algumas coisas, ou melhor ainda: tudo depende de tudo e todas as variáveis se entrecruzam de modo a que a nuvem de fumo de dois cigarros iguais, acesos ao mesmo tempo, da mesma forma, um ao lado do outro, sejam sempre completamente diferentes. Confusos? Eu também ...

Quando Julio César passou o Rubicão com as suas legiões a caminho de Roma, depois da campanha da Gaulia, violando as leis da República, disse: "alea jacta est" ("a sorte está lançada", ou "os dados estão lançados"). 

Pode parecer paradoxal, mas na verdade a inexistência da aleatoriedade não impede a existência da sorte se esta for definida como uma sucessão favorável de acontecimentos toldada por variáveis complexas. Partindo desta definição então a sorte acaba por estar em todo o lado, determinando muito daquilo que acontece.

A aceitação destas verdades pode não trazer muita felicidade, mas pelo menos pode tirar-nos alguma soberba ou algum peso na consciência.

Esta coluna será sobre todas as coisas insignificantes, todas as pequenas variáveis e todas as grandes coisas. Não olhará ao útil, ao inútil, ao interessante ou ao desinteressante, pois sob este prisma todas as coisas são iguais quando giraram ferozmente no poderoso turbilhão das coisas. Afinal as ervas daninhas são só ervas paras as quais ninguém descobriu ainda nenhuma propriedade, não têm nada de intrinsecamente pior que muitas outras que crescem expontaneamente nos nossos jardins...

Afinal o conhecimento não ocupa lugar e a vida, guião sem argumentista, aproxima-se na sua diversidade mais do absurdo que do dramático e portanto mais da comédia que da tragédia.

Alea jacta est:

Não há mais ozono há beira-mar do que em qualquer outro lado. A beira-mar cheira a algas em decomposição (basicamente enxofre) e inalar esse cheiro só poderá ter efeitos placebos.
Se queres apanhar uma boa dose de ozono lava-te com lixívia, vai para a beira de equipamentos de alta voltagem, torna-te ambientalista e vai abraçar salgueiros e carvalhos ou, para maior eficácia: mete a boca num tubo de escape e respira profundamente...

Um comentário

Corrida contra o relógio para acabar o post na segunda-feira ....

by Ary on 30 de setembro de 2008 às 00:15. #