Dia da Memória

por Pedro Silva em domingo, 18 de novembro de 2007

"Chorei de manhã até à noite quando descobri que não podia mexer as pernas. Não vale a pena imaginar", recordou hoje Nelson Silva, 32 anos tetraplégico, a viver há dois meses no Centro de Medicina e Reabilitação de São Brás de Alportel, no Algarve. Há cerca de dois anos, Nelson, divorciado, com duas filhas de oito e 10 anos de idade e empregado na construção civil desde os 16 anos, adormeceu ao volante da sua motorizada nova na Ponte de Portimão, precisamente no dia em que estava a celebrar o seu 30º aniversário. "Era a primeira vez que levava as minhas filhas um baile, elas nunca tinham visto nenhuma festa assim", lembra Nelson. Por volta da uma da manhã, quando regressava a casa de mota, aconteceu a tragédia: adormeceu ao volante. Sozinho, não houve culpa de ninguém só dele próprio, confessa o jovem da geração de 1975. "Parti-me todo, parti clavícula, desloquei o maxilar, parti dentes", e ficou sem se poder mexer do pescoço para baixo, mas a médica Margarida Sizenando explicou à Lusa que dentro do mal, a tetraplagia de Nelson era "incompleta", porque o membro superior esquerdo está funcional. Esteve em coma profundo dois meses e meio no Hospital de São José, em Lisboa, mais nove meses no hospital de Portimão e agora está em fase de reabilitação no Centro de Medicina de S. Brás de Alportel. Quando saiu do coma, Nelson Silva, que ouvia vozes a falar de alguém que tinha ficado sem poder andar, pensou que seria o irmão dele, mas não, na realidade a tetraplagia era dele próprio, recorda, magro, a fumar cigarros atrás de cigarro para aproveitar o tempo em que está autorizado a fumar. "Aqui só de pode fumar à hora das refeições e no café. Dantes fumava três maços por dia, mas agora um maço dá-me para dois dias". Com dois meses de reabilitação, Nelson já consegue endireitar-se numa cadeira sem cair para o lado e com ajuda já sai da cama para a cadeira de rodas e vice-versa. Está a preparar-se para ter uma vida independente dentro do possível quando for para casa, conta. Nelson Silva que vai receber uma pensão de reforma de invalidez de 177 euros por mês só pede uma coisa na vida. "Gostava que me arranjassem um emprego na Câmara de Lagoa para poder entreter-me sem estar todo o dia preso em casa, mas só tenho a quarta classe", confessa. Quem também só pede um emprego é Elsa Ramos, 31 anos, fotógrafa, paraplégica e há três anos à espera de encontrar um trabalho para conseguir viver por sua conta própria. "Eu não estou doente, tive um acidente", clarifica a paciente, há três meses em reabilitação em S. Brás de Alportel, apelando à Governadora Civil de Faro, Isilda Gomes, que ajude a quebrar as barreiras arquitectónicas no Algarve. "Faço casamentos e baptizados e tenho a minha casa toda adaptada para o meu estado. Só me falta um emprego e está difícil", confessa Elsa à Governadora Civil. Elsa Ramos, uma das centenas de vítimas nas estradas portuguesas, teve a infelicidade de estar a passar numa passagem de nível na Luz de Tavira, sem qualquer sinalização ou segurança, e um comboio ter batido na viatura por trás. Depois não se lembra de mais nada, contaram-lhe que o carro capotou, explica. Depois do acidente ninguém mais lhe voltou a dar trabalho e no emprego onde fazia fotografias de cerimónias religiosas, o proprietário fez obras e disse que já não precisava mais de Elsa Ramos.

Hoje, no Dia da Memória, uma iniciativa de combate à sinistralidade rodoviária, a Governadora Civil assinalou a jornada com a visita ao Centro de Reabilitação em S. Brás. O Algarve é a região que está em segundo lugar na lista nacional de mais acidentes de viação.

Por Cecília Malheiro, da Agência Lusa


Porque o nosso Tribuna não podia ficar indiferente a este dia e a tudo aquilo que este representa… Esta guerra contra a Sinistralidade Rodoviária só poderá terminar de vez se todos, mas todos nos recordarmos em conjunto que a Vida não pode ser esquecida.

Saudações Portistas!!

2 comentários

O problema é quando a adrenalina do presente suplanta a força da memória!

by White Castle on 18 de novembro de 2007 às 17:38. #

Não podia estar mais de acordo contigo White Castle... Mas eu acredito que um dia as pessoas acordarão e se lembrarão do passado para viverem um Presente seguro.

by Pedro Silva on 18 de novembro de 2007 às 18:37. #