Crítica da Semana: Hot Fuzz

por marcomoura77 em segunda-feira, 26 de novembro de 2007


Ainda não foi esta semana que fui ver American Gangster mas desta vez não saí mesmo nada desiludido do cinema.
As expectativas eram altas - muito altas mesmo - uma vez que os responsáveis por este Hot Fuzz são os mesmos que estão por detrás do delirante Shaun of the Dead.
E é aqui que tenho de fazer um ponto prévio uma vez que (e ainda que eu leve a cabo a minha incessante campanha de divulgação, sem fins lucrativos, há já muito tempo) ainda são poucos - pelo menos em Portugal - os que conhecem este filme.
É, claramente, um dos meus filmes de culto favoritos, um verdadeiro guilty pleasure, carregado de humor tipicamente britânico, non sense e, descrito pelo realizador como «uma comédia romântica com zombies...» - e, por muito estranho que vos pareça, vejam este filme, entrem no espírito de Simon Pegg, Nick Frost e companhia e, tudo em Hot Fuzz fará muito mais sentido.
Há, no meu entender, duas formas distintas de realizar um spoof movie: uma é a utilizada pelos irmãos Wayans, que consiste em fazer um irónico copy/paste das cenas mais marcantes de filmes famosos, um método que gera gargalhada fácil, claramente menos criativo e também menos estimulante (utilizado em Scary Movie e sucedâneos); o outro é o utilizado nestes filmes britânicos que passa por homenagear um género sem, no entanto, se cingir apenas a isso, ou seja, há, quer em Shaun of the Dead quer em Hot Fuzz, acima de tudo um ponto de vista de quem efectivamente gosta e vive cinema e que passa por três elementos distintos: em primeiro lugar, por um conjunto de referências expressas - aos muito fracos Point Break e Bad Boys 2 e à forma como são ridicularizados mas simultaneamente integrados na narrativa; em segundo lugar, por todo um vasto leque de referências implícitas que passam por filmes como Tango & Cash, a saga Lethal Weapon, um toque de Desperado e, de forma ainda mais paradoxal (porque claramente fora do género) referências aos Western Spaghetti de Leone, a Trainspotting e mesmo aos filmes de série B japoneses como Gojira (Godzilla, entre nós); e finalmente - e mais importante que tudo o resto - a um argumento sólido, sem falhas e coerente, com muito humor e inteligência à mistura que confere uma excelente unidade sistemática a todo o projecto (e que claramente não existe nos filmes dos Wayans).
Uma palavra também para a realização de Edgar Wright que, fazendo óbvia referência aos truques clássicos do género, introduz também um cunho muito pessoal. A realização não ofusca a presença de um elenco fantástico (conhecido entre nós por diversas britcom's como The Office ou por filmes como Love Actually) mas também não é meramente contemplativa.
Obviamente, não esperem um trabalho de câmara como o de Antonioni, mas podem contar com uma realização astuta, rápida e, acima de tudo, que é claramente feita por alguém que já passou muitas horas no cinema.
De destacar ainda o excelente elenco de secundários - desde o velho imperceptível à mulher-polícia tarada sexual - que possibilita todo um conjunto de gags indecorosos e muito arrojados mas que se enquadram de forma perfeita na dinâmica daquela pequena e estranha localidade.
Em suma, quando por vezes parece que no cinema tudo foi já inventado em termos de humor surgem-nos (ainda que raramente) alguns achados como este Hot Fuzz - ou também como Knocked Up, de Judd Appatow - que nos devolvem a confiança no humor contemporâneo.
O Melhor: O elenco (principal e secundário) e a banda sonora.
O Pior: Pessoalmente achei Shaun of the Dead um pouco (muito pouco) melhor que Hot Fuzz... e mais nada.
Nota: 8.5/10
Até para a semana.
MM

Um comentário

Shaun of the dead foi um dos filmes mais SECANTES que vi mas tb gostei do Hot Fuzz (apesar de ter adormecido)...

Daniela

by Anónimo on 27 de novembro de 2007 às 20:52. #